21 dezembro 2004

Caro André

Não podia estar mais em desacordo contigo. Realmente estamos a viver uma situação em tudo idêntica com a vivida há 3 anos atrás: um governo demissionário no mês de Dezembro, eleições legislativas marcadas para o primeiro trimestre do ano seguinte, o Sporting a colocar-se no 1º lugar do campeonato nacional (também depois de um péssimo arranque de campeonato) e o défice público do ultimo ano de cada um destes dois governos a ultrapassar os 3%.

Até aqui está tudo igual. Mas a grande diferença meu caro amigo, é que ao contrário do governo socialista a maioria de direita, em virtude de ser um governo de gestão, não pode tomar medidas, que a serem tomadas nestes últimos 20 dias, seriam o suficiente para que o deficit ficasse abaixo dos 3%. As medidas extraordinárias, são extraordinárias, mas podem ser tomadas em situações extremas, o que é o caso, só que um governo de gestão está limitado na sua actuação.

Ao contrário do governo socialista este governo tomou medidas muito impopulares, mas que tinham de ser tomadas, sob pena, do nosso Pais entrar definitivamente na bancarrota, tais como:
  • a introdução de portagens nas SCUT´s
  • reforma da lei laboral de forma a incrementar a produtividade e flexibilidade laboral
  • congelamento dos salários da função pública
  • uma grande reforma no sistema nacional de saúde
  • fim de alguns benefícios fiscais em sede de IRS
  • corte geral em todas as áreas da despesa publica
  • etc, etc
Nada disso seria necessário se as reformas que a economia portuguesa necessita já tivessem sido tomadas desde 1986. Mas não houve coragem política, nem homens com eles no sitio. Se estas medidas não tivessem sido tomadas o nosso deficit não seria de 3%, mas de certeza superior a 10%.

Nada disso seria necessário se não tivéssemos sido governados durante 6 anos por um governo sem rumo, sem objectivos e sem coordenação das políticas económicas.

Nada disso seria necessário se em Portugal houvesse estabilidade política e os governos durassem 4 anos.

Nada disso seria necessário se o governo de Portugal tivesse sido chefiado por um homem determinado, duro e com um pulso de ferro.

Nada disso seria necessário se os conceitos de flexibilidade laboral, produtividade e inovação não fossem papões para a esquerda.

A analise da comparação entre o governo de maioria de direita e o governo socialista não pode ser feito dessa forma, meu caro amigo André, sob pena de estarmos a sermos injustos para quem teve coragem, determinação e algo mais para fazer por Portugal o que há muito era necessário. E este governo teve.

Portugal não pode parar. Portugal não pode esperar.