15 janeiro 2006

Eu dou-lhe cavaco!

O Carlos, decerto inspirado pelo lirismo parisience, vem fazer uma surpreendente declaração de voto em Manuel Alegre, o poeta, que me obriga a antecipar aquela que seria a minha própria declaração de voto em Cavaco (vá lá, podem agora todos ficar espantados, mas antes de me chamarem incoerente, leiam até ao fim!)

Para começar, eu não gosto do Professor Cavaco. Já o demonstrei noutras ocasiões e continuo com a minha opinião, teimosa, pois claro! Não gosto da postura, não gosto do ar de superioridade moral, não gosto do perfil esfíngico, não gosto daquela maneira de ser fria e rígida, não gosto de o ver a comer bolo rei, enfim, não gosto da figurinha do Professor intocável e superiormente inteligente que, qual pai da pátria, conduzirá os seus tristes e rebeldes filhos a um caminho de maior desenvolvimento e progresso (talvez o pudesse ter feito nos 10 anos que foi PM, mas isso é outra conversa!)

Mas estamos entendidos, eu não sou nenhuma 'cavaquette' e muito menos recém rendida ao slogan Portugal Maior!

De todo o modo, se em Outubro defendia uma candidatura independente do CDS, ao ver que tal hipótese se tornara impossível restavam-me apenas duas alternativas: ou Cavaco ou viva o Rei. Nunca ponderei votar em candidatos socialistas, bloquistas, comunistas ou socialistas utópicos - apesar dos olhos azuis e da voz melosa deste último! Porque se ideologicamente estou quase tão longe de Soares como de Cavaco, sei que neste momento para o nosso país é fundamental ter um presidente que não pertença à área socialista, na medida em que PS já instalou o seu aparelho em todos os órgãos do estado - ver este texto do JCS - e prepara-se para, tendo um dos seus em Belém, continuar alegremente o saque que iniciou.

Face a este estado de coisas, e sabendo que Alegre é um lírico e que o mundo da política não é para lirismos, que Louçã está neste combate com outras intenções e que Jerónimo apenas quer garantir o espaço do PC, a luta verdadeira é entre Cavaco e Soares (por mais que as sondagens dêem vantagem ao candidato-poeta). E eu não quero Soares como Presidente. De modo algum! E para evitar que tal suceda, tenho que engolir o maior sapo da minha vida e votar Cavaco no dia 22.

Por menos que goste dele. Por mais que ache que ele não é o meu candidato ideal. Por mais que saiba que ele não respeita o CDS. Mas Cavaco é, neste momento o mal menor. E tendo que escolher entre votar com o coração - viva o rei - ou com a razão - Cavaco -, eu opto pela última e engulo o sapo, porque o que eu quero mesmo é votar contra Soares! (E votar com o coração só mesmo no meu CDS!)

E agora, feita a minha declaração de voto, continuarei como até hoje - tranquila a assistir à campanha, sem participar e sem fazer qualquer defesa do professor ou apelo ao voto na sua candidatura. Dou-lhe o meu voto, consciente e racional, mais nada!