22 outubro 2006

Campanha fora dos partidos

«José Ribeiro e Castro começou ontem a acertar os detalhes da campanha do "não" no referendo do aborto, com uma reunião na sede da Federação Portuguesa pela Vida, que agrupa mais de 20 associações anti-interrupção voluntária da gravidez.

Repetindo a fórmula mágica de Paulo Portas em 1998 - quando criou ou ajudou a criar vários movimentos pró-vida, muitos deles baseados no Largo do Caldas -, Ribeiro e Castro mostrou total sintonia com a federação e até levou consigo dirigentes centristas que são simultaneamente membros daquelas associações. Era o caso do deputado e vice-presidente José Paulo Carvalho, que pertence ao "Vida Norte - Família e Vida", e de Paulo Núncio, da "Associação Missão Vida". E o líder do CDS não escondeu que em equipa que ganha não se mexe: "Uma das experiências mais ricas do referendo de 98 foi a multiplicidade de movimentos de apoio às mulheres e às crianças".

Neste encontro, o presidente democrata-cristão assumiu que irá entrar na "batalha contra o obscurantismo e pelos direitos da criança por nascer". Dizendo que "o CDS tem uma posição assumida" - "o combate à liberalização do aborto, que é o contrário da resposta de modernidade" -, Ribeiro e Castro apelou a que "os militantes do partido actuem como mais um movimento" e não quis esconder que a visita à sede da Federação Portuguesa pela Vida, no bairro de Alvalade, em Lisboa, tinha como objectivo principal a "articulação para conseguir um maior resultado na batalha de fundo".

Antes da reunião, onde participaram mais de dez dirigentes das associações pró-vida e onde esteve também presente o médico Gentil Martins, José Ribeiro e Castro definiu a luta pelo "não" no referendo como a luta por aquele que é "o mais fundamental dos direitos fundamentais". Daí que tenha dito aos presentes que iria participar na campanha "numa dupla qualidade": "Como presidente do partido e como militante do direito à vida".

Ontem, visivelmente descontraído, Ribeiro e Castro não quis apenas cingir-se aos aspectos práticos e à mensagem do partido em relação ao referendo à interrupção voluntária da gravidez até às dez semanas. O líder do CDS/PP, antes de Isilda Pegado, presidente da Federação Portuguesa pela Vida ter falado, resolveu chamar os jornalistas e sair-se com um número de marketing político. De SG Ventil na mão, Ribeiro e Castro virou o maço de tabaco para as câmaras e disse: "Esta é para as televisões". O líder do CDS/PP desafiou o ministro da Saúde, Correia de Campos, a ler as palavras "Se está grávida, fumar prejudica a saúde do seu filho" e aconselhou-o "a ser consequente".

Ribeiro e Castro não se ficou por aí e defendeu que o Governo adopte mais "medidas family friendly". "Medidas de apoio à família e mais medidas de apoio a instituições que se dedicam às mulheres, nomeadamente centros de apoio à vida", disse o presidente do CDS/PP.

Sobre a data ideal para a realização do referendo, Ribeiro e Castro também disse querer ter uma palavra a dizer e desmentiu notícias vindas a público dizendo que defendia o mês de Março. "Ainda não avaliei o assunto, mas presumo que o senhor Presidente da República irá ouvir os partidos sobre essa matéria", adiantou o líder do CDS

Diário de Notícias, 22 de Outubro de 2006