28 junho 2004

Compromissos, Fidelidade e Interesse Nacional

Com os acontecimentos dos últimos dias, grande parte da Direita acordou assustada para a realidade de que, muito provavelmente, Santana Lopes será o próximo Primeiro Ministro. Acordaram e não gostaram do que viram! (Juro que me faz lembrar o filme Adeus Lenine...)

Dizem eles que preferiam Manuela Ferreira Leite, Dias Loureiro ou qualquer outro que não Santana Lopes e até já invocam o espírito (permitam-me a ironia) do Professor Cavaco!

Os argumentos são vários: a diabolização de Santana Lopes; o populismo imparável da dupla Santana/Portas; a falta de legitimidade do ainda Presidente da Câmara Municipal de Lisboa para assumir o Governo; o compromisso assumido por Durão Barroso em 2002; o facto da legislatura não ter acabado; etc...

Não percebem estas mentes iluminadas da Direita que estão a fazer o trabalhinho de casa ao PS e demais Barnabés, conduzindo o PR à inevitabilidade de ter que convocar eleições antecipadas, que ele não quer (na medida em que a maioria não chega a consenso!)

Mas vamos por pontos:

1. Durão Barroso não vai abandonar o Governo por seu interesse (muito menos fugir como Guterres!!!!)! Vai ter que deixar o cargo de PM porque o interesse nacional assim o exige. Neste momento, sejamos honestos, o interesse nacional é ter um Presidente da Comissão Europeia Português! É recentrar a União, depois do Alargamento a leste, e reforçar os nossos poderes nos equilíbrios instáveis da Comissão! Sejamos honestos, frontais e falemos, pois, claro!

2. Durão Barroso apresentou-se aos eleitores com um Programa de Governo que não é dele e não foi eleito, segundo creio, numa eleição pessoal. O PSD ganhou as eleiçõs e como tal foi chamado a formar Governo, apresentando como PM o seu líder. Nem isso, pelos parcos conhecimentos de Direito Constitucional que tenho, é obrigatório! O líder do partido mais votado e o PM podem não ser a mesma pessoa! Para além do mais há várias vissicitudes que podem acontecer a um PM que não implicam novas eleições (ao contrário do que se pasa com o PR): desde logo a morte ou a incapacidade permanente! Por isso mesmo, quando votamos nas legislativas estamos a votar em partidos e não em pessoas!

3. Durão Barroso, na minha opinião, não se poderia sentir amarrado aos compromissos eleitorais e como tal recusar esta hipótese que muito honra Portugal. Deve aceitá-la assegurando uma 'Transição' no seu Governo, mantendo as políticas e a linha de rumo inalteradas, apesar da mudança de caras. Assim não poderão os eleitores sentir-se defraudados porque não votaram nem no Zé Manel, nem no Pedro ou no Paulo. Votaram em programas, em partidos e em projectos! Esses continuam inalterados apesar de um novo PM e novos ministros!

4. Nós (CDS) estamos em coligação e por isso temos uma palavra a dizer sobre tudo isto. Não devemos, porém, perder de vista que o problema da sucessão de Durão Barroso no partido é um problema interno do PSD e como tal deve ser o PSD a resolvê-lo. Também nós não gostamos quando militantes de outros partidos vêm dizer quem deveria ser o Presidente do CDS! Deixemos o PSD resolver a sucessão interna e falemos depois do Governo! De todo o modo, um reparo ao que diz o Francisco, Santana Lopes não toma o PSD em jeito de Golpe Palaciano! Foi eleito em Congresso 1º Vice-Presidente pelo que quem votou em Durão Barroso sabia que nos seus impedimentos seria Santana a assumir a chefia do partido! É para isso que servem os 1ºs Vice-Presdentes, como sabes!

Como já devem ter percebido, sou das que apoia a ida do ainda PM português para Presidente da Comissão e do grupo que não sente pele de galinha ao imaginar Santana Lopes como PM! Desejo apenas que o bom senso impere entre as hostes da Direita (à esquerda já percebemos que 'tá tudo louco'!) caso contrário a opção pode ser, não entre Santana e outro qualquer do PSD, mas entre Santana e Ferro Rodrigues, de braço dado com Louçã!