08 setembro 2004

A CRISE NO TURISMO
Estando actualmente de férias no Algarve não posso deixar de escrever umas breves linhas acerca da crise que se vive no sector do turismo, e em particular nesta zona do Algarve.

Todos sabemos que o sector do turismo está a atravessar um período muito difícil, especialmente o turismo do Algarve. As notícias são impiedosas. Em 2003 os resultados da actividade turística nacional foram maus. Por diversas razões, como o discurso da tanga, os receios dos atentados e a recessão económica que se instalou em toda a Europa. Segundo as notícias, os resultados de 2004 não deverão ser melhores. Em relação ao Algarve as taxas de ocupação neste mês de Agosto são muito baixas.

Na minha opinião, a crise do Algarve é bem real. Não é necessário estudos sobre as taxas de ocupação, basta passear-se pelas principais ruas de Vilamoura ou da Praia da Rocha, para se perceber como estão vazias. Mas o mais grave desta crise, é que não é uma crise conjuntural, mas sim estrutural.

O Algarve ao contrário de outros destinos turísticos não apostou na qualidade, mas sim no turismo de massas. E quando assim é, tudo tem um fim. Como pode o Algarve competir a nível de preços, com os destinos exóticos do Brasil e das Caraíbas? Como pode o Algarve competir com destinos por € 1000 durante 15 dias? Estão a emergir por este Planeta fora destinos turísticos perfeitamente fantásticos a preços extremamente acessíveis.

O 16º Governo Constitucional criou pela primeira vez o Ministério do Turismo, que há mais de 30 anos era reclamado pelos empresários do sector. Durante os mandatos dos últimos governos PS e do PSD esteve prestes a tornar-se realidade, mas nunca passou disso.

Não houve nos últimos 30 anos um projecto, uma coordenação para o turismo português e em especial para aquele que até há meia dúzia de anos absorvia a quase totalidade dos destinos turísticos de Portugal. Só há 2 anos existe uma Auto-estrada que liga Lisboa ao Algarve (estávamos ao nível do 3º mundo). Só há um ano a Via do Infante liga as duas pontas do Algarve. Nos últimos 30 anos toda a costa algarvia foi destruída com arranhas céus, tudo feito sem nenhum planeamento urbanístico, etc. Durante este anos, outros destinos (alguns dos quais na nossa vizinha Espanha) foram-se modernizando, investindo e oferecem hoje, todas as infra-estruturas necessárias aos turistas pelo mesmo preço ou mesmo mais baixos do que o Algarve.

Quando há 10 anos, num programa da SIC Miguel de Sousa Tavares e Pacheco Pereira chamaram a atenção para estas questões, caiu o Carmo e a Trindade, foram insultados, etc. Hoje o tempo e os números dão-lhes razão.......... O Algarve assim não tem futuro.

O Algarve necessita urgentemente de uma nova política estratégica, de um novo rumo, para fazer face à concorrência externa.

Há uns anos atrás o Governo do Professor Cavaco Silva encomendou um estudo sobre a economia portuguesa a um guru da gestão, de seu nome Michel Porter. Os resultados desse estudo foram muito interessantes, tanto mais, do que muito do que foi dito nesse relatório está a acontecer com Portugal nas mais variadas áreas. Uma dessas conclusões, foi que o turismo era uma das áreas estratégicas na qual Portugal deveria investir, porque tem condições naturais únicas que fazem a diferenciação. Porter foi mais longe nas suas conclusões e referia-se a um turismo de qualidade.

Mesmo em momentos de crise, Portugal ocupa um lugar de potência intermédia no ranking da actividade turística. Portugal ocupa o 10º lugar europeu e o 16º a nível mundial, o que é notável para a dimensão geográfica do nosso país. O objectivo formulado por este Governo, com a criação do Ministério do Turismo é criar as condições necessárias para que Portugal possa ser daqui a poucos anos um dos 10 destinos turísticos mais visitados do mundo.

O Ministério do Turismo tem que rapidamente e em conjunto com os empresários do sector definir uma estratégia para os próximos 50 anos, que passará pela aposta na qualidade e na promoção de novos destinos turísticos como seja Tróia, a Madeira, os Açores, o Douro e o Alentejo.

Boa sorte, Dr. Telmo Correia.....