09 setembro 2004

Acabei agora de assistir na SIC Notícias à entrevista com o candidato à Secretário-geral do PS Manuel Alegre, que confesso desde já que se trata de uma pessoa pela qual nutro alguma simpatia, principalmente devido à sua coerência política.

Tenho assistido a esta campanha eleitoral do PS com um duplo objectivo que até poderão ser incompatíveis, ou seja:
i) por um lado desejo que vença aquele candidato que do ponto de vista eleitoral seja mais fraco;

ii) por outro lado, e sabendo que em democracia a alternância é uma realidade desejável, tenho a consciência que mais cedo ou mais tarde o PS vai voltar a ser Governo, por isso e para bem de Portugal e para que não se repitam Governos desastrosos como o ultimo governo do Partido Socialista, é desejável que o candidato vencedor seja o que do ponto de vista operacional e ideológico seja aquele que dê as melhores garantias.

Do ponto de vista do candidato mais fraco desejo que o Sócrates não vença estas eleições, pois penso que seja em termos eleitorais o candidato mais forte. Sócrates é dos três candidatos aquele que mais facilmente consegue entrar dentro do eleitorado de centro que normalmente decide as eleições

Mas por outro lado, não me posso esquecer que a regra da alternância existe, e corremos o sério risco de voltarmos a ter o Partido Socialista no Governo e quem sabe senão aliado à extrema-esquerda. Assim, importa garantir que o futuro líder do PS não seja muito virado à esquerda.

Quando ouço quer João Soares, quer Manuel Alegra a falarem fico com arrepios. O discurso deles é um discurso do tempo do PREC. Falam de nacionalizações, falam do reforço da intervenção do Estado na Economia, falam da mudança da lei laboral, etc. O que será de nós de algum destes senhores chegar a líder de um governo em Portugal!!!!!!!

Confesso que até ontem deseja como militante do CDS/Partido Popular que o vencedor destas eleições no PS fosse ou o Dr. João Soares ou o Dr. Manuel Alegre. Mas depois de ouvir o debate entre os três candidatos no Hotel Altis, mudei de posição. Estes senhores quando confrontados com a questão do aborto e da regionalização, disseram que na hipótese de serem governo as actuais leis seriam alteradas através da maioria parlamentar, não sujeitando nenhuma destas questões a novo referendo.

Eu até fico assustado......... mas como é possível estas almas pensarem e dizerem uma coisa destas. Quer a suposta liberalização do aborto, quer a regionalização foram rejeitadas pela população portuguesa através do mecanismo do referendo. Não me cabe na cabeça, como é que alguém que, porventura, tenha uma maioria parlamentar, possa implementar através do voto dos deputados a regionalização, quando esta questão foi posta à votação em Novembro de 1998, e foi rejeitada por 70% dos portugueses. Será que esta esquerda acha que uma centena de deputados vale mais do que o voto de 70% dos portugueses? Mas não é a esquerda que defende a participação do povo nas decisões do país? Ou será esta esquerda do caviar é tão arrogante em termos intelectuais que acha que o povo não deve participar nas grandes decisões do país.

Portanto louvo a posição do candidato José Sócrates que garantiu que quer a questão da regionalização, quer a questão do aborto jamais serão alteradas sem a existência prévia de um referendo.