20 janeiro 2005

Direito a falar sobre o direito à vida

Na parte final do debate entre Paulo Portas e Francisco Louçã assistimos a uma cena verdadeiramente surreal: Louçã, com o seu ar dono da virtude, da verdade e da razão, disse a Portas que ele não tem o direito de falar em direito à vida porque não tem filhos e, consequentemente, nunca gerou nenhuma vida. Já ele, pai de uma filha («eu sei o que é o sorriso de uma criança», dizia ele) terá todo o direito a fazê-lo.

Por esta ordem de ideias eu também não posso falar de direito à vida (nem nenhum dos que comigo escrevem neste BLOG), nem poderei votar, no tal referendo ao aborto que o Bloco tanto pede. Afinal, como (ainda) não gerei nenhuma vida, não tenho voto na matéria, não sei do que falo, tenho que ser silenciada e remetida à minha total ignorância sobre o tema.

Porque, pela lógica de Louçã, para sabermos o que é o aborto e qual o seu melhor enquadramento jurídico-penal, temos que ser pais e mães. Pela mesma ordem de ideias, aptos a definir o quadro penal da pedofilia são os pedófilos e do furto, os ladrões! Já o combate à fraude evasão fiscais (tema caro aos Bloquistas) deve ser deixado aos burlões!!!!

Ficámos, pois a saber qual é a ideia de democracia, de tolerância e de respeito do Bloco de Esquerda. É esta gente, que não respeita convicções, valores ou opiniões, que nos pede uma votação reforçada. Para quê? Para poderem silenciar os que não pensam como eles? Para nos mandarem (os que pensam de outro modo) para um campo de concentração?