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Portuguesíades
Durão Barroso, maoismo, mercenarismo
João de Mendia
Há muito tempo, pela altura de se suceder ao Doutor Salazar, colocaram-se algumas hipóteses nesse sentido, não muitas, para além de todas elas terem de reunir uma série de requisitos difíceis de juntar numa só pessoa. Mas não podia deixar de ser assim por razões, até, de doutrina. Uma das pessoas que esteve à beira de ser nomeado foi o Embaixador Franco Nogueira, pessoa que muitos teriam gostado de ver substituir o antigo Presidente do Conselho, sobretudo por se saber que suceder a Salazar seria tarefa ao alcance daquele Senhor.
Franco Nogueira era uma das pessoas com mais hipóteses para presidir ao governo dada a sua qualidade de estadista e de ter uma projecção internacional adquirida na defesa do ponto de vista de Portugal, de uma forma reconhecidamente brilhante, e com que muitos diziam discordar. Sabe-se hoje que não eram tantos como isso. Mas enfim, a defesa de Portugal nos areópagos internacionais era de tal forma bem concebida e apresentada por Franco Nogueira, que ainda hoje os seus discursos são citados na ONU como peças de uma importância e qualidade politica e literária extraordinárias. Mas, e apesar de tudo isto, Franco Nogueira declinou esta hipótese com o argumento de não se sentir com à vontade suficiente na área económica, e Portugal se encontrar, na altura, numa fase em que era necessária uma especial atenção nesse sector. Sobretudo pela necessidade de um rigor draconiano com o orçamento que a guerra no Ultramar exigia. Foi, como todos sabemos, nomeado o Prof. Marcelo Caetano, outro dos poucos estadistas com perfil para a sucessão.
Passado muito tempo, já no fim dos anos 80, no decorrer de uma cerimónia de aniversário do Comando da NATO em Oeiras, um general americano perguntou ao Senhor General Kaúlza de Arriaga qual seria a população de Portugal. Depois de saber a resposta, dez milhões, aquele oficial generala americano ironizou dizendo que, do que o nosso País necessitaria seria de um bom “mayor”, aludindo ao facto de haver várias cidades americanas, só elas, com bastante mais gente que isso, e um razoável número de empresas também americanas terem orçamentos superiores ao do nosso Estado.
Servem estas alusões para a constatação da perda inexorável de importância relativa de Portugal ao longo do tempo que medeia estes dois episódios. Esteja-se ou não de acordo com o processo, surpreenderá, assim, menos, certas atitudes relativamente ao nosso País por parte dos que hoje mandam na Europa. Portugal, sem o Ultramar, passou a ser bastante menos uma realidade em que se acredita, e bastante mais uma outra que se contabiliza. Mas se a análise for mal feita e se correrem mal as soluções propostas pelas novas regras, serão os mesmos dez milhões a sofrer as consequências. Não os Barrosos, ou os Lopes que vêm as suas questões de tesouraria paroquiana resolvidas. Muito bem resolvidas.
Temos vindo a constatar que, muito por culpa nossa, a posição de Portugal no concerto europeu é a que se sabe, ou seja, praticamente nenhuma. E esta é a tristíssima das realidades por muito que nos queriam convencer do contrário para justificar aquele recente e ridículo afã para se colocarem em Estrasburgo dezenas de caríssimos agentes partidários. Não deputados de nação nenhuma, por ter caído este conceito, nem muito menos defensores dos nossos interesses, porque os nossos, e os deles, nem sempre são os mesmos. São até antagónicos, muitas das vezes.
Uma coisa é não nos ligarem a importância que merecemos, outra, muito diferente, e bem mais grave, é verificarmos que é cá de dentro que vem a peregrina ideia de não sermos, afinal, o “valor mais alto que se alevanta,”. Esse valor, a existir, será a tal Europa em relação à qual existem cada vez mais e maiores dúvidas. É mesmo o responsável máximo pelas boas promessas que se fizeram nas eleições, Durão Barroso, o primeiro a achar isso mesmo. E troca o que deveria ser a relevância transcendente de servir o seu País, por uma mera e efémera etapa na sua carreira política pessoal, que terá que passar por se colocar ao serviço dos grandes da Europa, muitas vezes contra os interesses do País de onde saiu, na véspera, como Primeiro Ministro.
Em plena recuperação, que a todos nos custa o que custa conseguir, e a meio de uma das mais sérias e complicadas fases da nossa vida, tanto no que diz respeito aos problemas internos como externos, Barroso, abandona. A carreira de Sua Excelência é, no fundo, o que sempre esteve bem acima de tudo isto. A isto, cá entre nós, sempre se chamou, trair.
Já não se equaciona a circunstância de Barroso ser o que restou de consultas falhadas, nem do facto de ter sido uma opção de último recurso, mas a realidade formal de se ter chegado ao estado de ser possível convocar um Primeiro Ministro em exercício, a meio de um mandato, para um lugar na Comissão que o sujo jogo do poder não conseguia preencher.
Da parte dele, Barroso, confirmam-se as reticências que havia de início, por se tratar de um personagem para quem certas premissas que seriam inerentes ao perfil de um Primeiro Ministro pareciam ser irrelevantes. E eram, como se confirma. Para ele, o Zé Manel, pelo que de muito grave foi responsável ao serviço do MRPP já em idade bem adulta, como torturar professores na faculdade amarrando-os a cadeiras, cuspir na cara de quem não concordava, participar no assalto à Embaixada de Espanha, entre outras coisas, faz agora sabe-se lá o quê, ao serviço sabe-se lá de quem, com puro espírito de mercenário a soldo de um pretor de circunstância.
A partir de agora, quando se disser que é ao serviço de um pretor que está o Barroso, é isso mesmo que se quer dizer, na medida em que muitas das decisões que irá tomar na Comissão serão, como sempre têm sido as dos outros, para benefício dos grandes. O que corresponde a dizer que, com frequência, serão contra Portugal. E isto tem o tal nome que eu dizia acima. Não existem duas leituras."
Venham os aplausos ou venham os tomates, mas manifestem-se sff.
Abreijos,